Telemarketing - Experimento Narrativo

Acordei assustada. O telefone tocou eu estava no quarto. Não atendi. Ele tocou novamente. Fui em sua direção, a cada passo sentia estar mais perto do esperado. Seria ela?


Uma sensação estranha pairava sobre o meu ser. Era como se todo o meu corpo estivesse acordado. O toque do telefone era quase ensurdecedor. Os meus sentidos estavam aguçados. Não devia ter bebido tanto na noite passada.

Atendi o telefone receosamente. Era ela, a moça de voz insuportavelmente aguda. Enquanto ela falava sobre as milagrosas facilidades de pagamento do curso gratuito que eu acabava de ganhar pela décima Quarta vez, eu imaginava o percurso que o som estranho da sua voz fazia ao chegar no meu ouvido.

Imaginava eu que, por trás de metros de fio telefônico, encontrava-se uma moça feia e de mente vazia. Sua voz aparentava ser a de uma senhora de noventa e cinco anos. As vezes, intercalava os timbres em volumes altos e baixos, o que me fazia lembrar o choro de uma criança mimada.

Após alguns minutos e muito gerúndio, desliguei o telefone e voltei à minha cama. Sua voz estranha ainda ecoava em meus ouvidos.

                                                                                        Calíope Philippe




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